Reforma

A Reforma

A categoria idoso é feita através do critério idade, e é associada à reforma. No entanto velhice e reforma são noções conceptuais distintas, cuja diferenciação se acentuou com as condicionantes sociais atuais. O consenso do valor da idade da reforma aos 65 anos foi um resultado dos processos históricos que envolvem conflitos entre o estado, as instâncias empregadoras e as organizações sindicais, representantes dos trabalhadores (Fernandes, 2008 cit. in Burnay, 2011).

A passagem à reforma é um acontecimento de cariz predominantemente normativo, exigindo ao individuo o desempenho de novos papéis e a respetiva integração numa dada estrutura de personalidade, cuja ocorrência coincide no tempo com outros acontecimentos de vida característicos do envelhecimento (Fonseca, 2005 cit. in Burnay, 2011).

De acordo com Atchley, 1996 cit. in Ferreira, 2013 a passagem pela reforma passa por um conjunto de fases. Estas fases permitem analisar o processo de transição-adaptação à reforma. Na primeira fase, a fase da pré-reforma, o indivíduo contempla a inevitabilidade ou a possibilidade de se reformar e inicia o processo de separação emocional do seu trabalho, fantasiando a vida de reformado. Na segunda fase, a fase da "lua-de-mel", o indivíduo abandona o seu local de trabalho e experimenta pela primeira vez a condição de reformado. Procura viver as fantasias que criou na fase anterior, adotando uma das duas posições: ocupação/atividade versus descanso/tranquilidade -, ou uma combinação entre elas. De acordo com o autor, esta fase equivale a uma espécie de férias prolongadas. Na terceira fase, a fase do desencanto, ocorre diminuição da satisfação sentida. O individuo descobre que necessita de algo mais para ocupar o seu tempo. A quarta fase, a Fase da definição de estratégias de coping, é caracterizda pela satisfação com a condição de reformado diminui progressivamente levando ao abandono das fantasias sobre a reforma. Ocorre uma procura realista de soluções para a ocupação do tempo disponível, que tragam consigo motivos de satisfação duradoura. Por último, na fase da estabilidade, o individuo revela capacidade para pensar e sentir a sua vida de uma forma integrada. O idoso elabora e desenvolve objetivos de vida que se constituem como estratégias adaptativas eficazes face à situação em que se encontra.

A passagem para a reforma pode gerar stress. Segundo Ramos (2001) cit. in Ferreira, 2013, definir o conceito de stress é difícil. Stress é uma palavra inglesa que significa “pressão”, “tensão” e cuja genealogia se iniciou com o termo latino stringere (“esticar”). De acordo com Ferreira, 2013: 29 “uma experiência de stress acontece quando o sujeito avalia que determinada situação comporta exigências significativas para o seu bem-estar, face às quais julga não dispor de recursos que as satisfaçam (tanto recursos de coping como de apoio social ou outros) ”.

Existe a necessidade de uma boa preparação para a transição da vida laboral para a reforma. Esta necessidade é destacada por Oliveira, 2008:87 cit. in Ferreira, 2013:26 que propõe uma “pedagogia ou educação para a reforma”. Neto (2012) cit. in Ferreira, 2013 defende que a educação para a reforma é um grande contributo para o desejado envelhecimento bem-sucedido. “ O desejo de alcançar algo e a vontade de realizar determinadas obras dão ânimo ao ser humano para continuar a sua jornada e perseverar na sua existência. Sem um objetivo ou algo a desenvolver, muito provavelmente, a vida perderá o seu sentido” Neto (2012, 20 cit. in Ferreira, 2013: 27).

A preparação para a reforma tem efeitos positivos nos idosos nomeadamente: “ajuda a enfrentar os problemas de saúde, económicos, sociais e a organização global de toda a vida”. A preparação para a reforma é cada vez mais requisitada por parte dos futuros reformados, já que a reforma pressupõe uma “reorientação e organização dos hábitos diários da vida” (Bueno, Vega e Bus 2004, 432 cit. in Ferreira, 2013:27).

A preparação para a reforma permite que os futuros reformados recebam informações antecipadas sobre a situação futura e possíveis dificuldades (Ferreira, 2013). Acreditamos que os “novo velhos” sentirão maiores dificuldades em aceitar a transição e terão mais necessidade de construírem projetos futuros (geração mais informada e mais reivindicadora).

É necessário desenvolver atividades e formações. Devem ser abordados temas como o processo de envelhecimento; a mudança de atitudes; hábitos e estilos de vida saudáveis; os processos de adaptação social; as possibilidades e formas de gestão do tempo disponível; as alterações na economia própria e doméstica; os tipos e modalidades de apoio existente para a velhice; os aspetos relacionados com o voluntariado, de entre outros relevantes aos sujeitos que caminham para uma nova etapa (Bueno, Vega e Bus, 2004 cit. in Ferreira, 2013).

A preparação para a reforma é um processo individual, mas que depende do coletivo, ou seja, a forma como os indivíduos “avaliam os indicadores ambientais, socioeconómicos e políticos influência positiva ou negativamente o planeamento para o futuro” (França, 2011 cit. in Ferreira, 2013:28).

Em Portugal, algumas empresas privadas e o poder público já começam a criar programas, formações, seminários, e fóruns destinados às pessoas que estão prestes a iniciar a reforma. No entanto, a adesão ainda é fraca (Ferreira, 2013).Nos últimos anos têm surgido vários mercados de ocupação para a população reformada, acompanhados pela nova ideologia do envelhecimento ativo.

 O turismo sénior, as termas, as universidades da terceira idade, o desporto sénior, são alguns dos exemplos de ocupação que têm vindo a ser disseminados por empresas privadas, organizações sociais sem fins lucrativos e organismos públicos de desenvolvimento local ou regional. (Silva, 2009)

Defendemos que os gerontólogos têm um papel fundamental para o desenvolvimento de projetos na área da reforma, nomeadamente na criação de respostas que preparem esta fase da vida, evitando o desenvolvimento de situações de stress.

A adaptação do tempo aquando da reforma implica “um exercício de imaginação na reconstrução de rotinas e na renovação de projetos de vida, podendo mesmo falar-se numa reconfiguração identitária “(Viegas e Gomes, 2007 cit. in Silva, 2009:62). A reforma não é um momento que se possa isolar das restantes experiências de vida das pessoas.

Os idosos têm agora, mais do nunca, um leque abrangente de ocupações disponíveis, permitindo a atividade física e intelectual. Esta situação enquadra os pressupostos de envelhecimento ativo nomeadamente o pilar da participação. (Silva, 2009)

 

BIBLIOGRAFIA

Burnay, R. (2011). A passagem à reforma: Um estudo exploratório sobre mulheres profissionalizadas na sociedade portuguesa. Dissertação de mestrado não publicada, Universidade Nova de Lisboa, Lisboa

Ferreira, M. (2013). Stress na Transição para a Reforma. Dissertação de mestrado não publicada, Universidade de Coimbra, Coimbra

Silva, S. (2009). Envelhecimento Ativo : Trajetórias de Vida e Ocupações na Reforma. Dissertação de mestrado não publicada, Universidade de Coimbra, Coimbra