Idosos e família

 

Os papeis da família têm-se modificado devido à complexidade de situações criadas por fatores socioculturais e económicos que afetaram diretamente as dinâmicas familiares. A nível económico resultou uma série de mudanças, como as inovações tecnológicas e as transformações das relações com o trabalho. Estas situações, aliadas a outros determinantes socioculturais, têm contribuído para as alterações na composição e recomposição da família moderna. Entre este novos arranjos familiares está a família ampliada constituída por avós, netos, cunhados, tios, sobrinhos, primos, enteados, como também a diluição das famílias nucleares quando são acrescidas de avós (Rodrigues & Soares, 2006).

São colocados novos desafios à família da sociedade moderna que é conviver e interagir com os indivíduos de maior idade numa sociedade que sobrevaloriza o jovem e belo, descartando os mais velhos (Rodrigues & Soares, 2006).

O papel do idoso, também sofreu alterações. Antes era difícil chegar aos 80,90 e 100 anos. Hoje a esperança média de vida é superior e as gerações mais novas passaram a conviver mais com os seus antepassados, principalmente nos momentos de crise económica e de instabilidade nos relacionamentos sociais. As transformações familiares tiveram uma profunda influência no lugar do idoso no interior da família. Ser criança, adolescente e adulto, tornou-se um valor. O adulto chega a ser infantilizado com a ilusão de se manter jovem. O desafio das sociedades contemporâneas é permanecer jovem o maior tempo possível. Estas condições são desfavoráveis para a velhice (Santos, 2006:46).

O envelhecimento pode significar a perda de “status”. Aquele que antes era pai passa a ser avô, criando desta forma, novos vínculos e novas possibilidades dentro do contexto e da vivência do individuo. Muitas vezes algumas famílias modificam o papel do idoso sem se questionarem como este se poderá sentir, provocando a perda de papéis e à aquisição de outros, levando á angústia do idoso (Sathler e Psy, 1994 cit. in. Souza, 2007).

Cada família é única, no entanto existem diversas formas sobre as quais podemos analisar as mesmas. As famílias têm estruturas mais ou menos rígidas, funcionamento e dinâmicas diferentes e etapas de desenvolvimento. Ao analisarmos as famílias devemos ter em conta as suas características e contextos étnicos, raciais, a inserção social e cultural existente, entre outros. O idoso faz parte destes contextos, podendo adaptar-se positivamente ao envelhecimento, contribuindo para novos questionamentos e novas relações. O idoso com a sua experiencia resgata valores e papéis antes desempenhados pelos jovens (Santos, 2006).

A família também se desenvolve de acordo com um ciclo vital, podendo ser definido como “um conjunto de etapas ou fases definidas sob alguns critérios (idade dos pais, dos filhos, tempo de união de um casal, entre outros) pelos quais as famílias passam, desde o início da sua constituição numa geração, até à morte de um dos indivíduos que a iniciaram” (Cerveny e col.1997:21 cit. in Souza, 2007).

O avanço da tecnologia levou ao aumento da população, especialmente nos grandes centros urbanos. A entrada da mulher no mercado de trabalho levou a uma nova constituição familiar, chamada a família nuclear. Esta família é composta geralmente pelo casal e os filhos. A família antes era mais numerosa e estável, com papéis hierarquizados sendo atualmente nuclear e deixando de viver pelo lema “o viver a qualquer custo até que a morte nos separe” (Santos, 2006:46).  

Para o idoso, a família é representada pelas pessoas que o ajudam, sem serem necessariamente serem parentes. Somam-se a estes, as noras, os genros, ex-noras e ex-genros e afilhados. Nos dias de hoje, encontramos o idoso a assumir um papel fundamental, passando por gerações, unindo e harmonizando os conflitos, dando suporte emocional aos netos (Santos, 2006).

Em geral os idosos assumem o papel de avós, sendo o porto seguro nos momentos de crise, dando apoio financeiro nos momentos de desemprego, transmitindo histórias familiares. Existem ainda outros papéis como: o de agregador, conselheiro, amigo e símbolo de resistência das dificuldades enfrentadas ao longo da vida. Aponta-se que daqui a uns anos um outro cenário esteja presente. O idoso passará a ser revalorizado dentro do contexto familiar, sendo a personagem que assume a transmissão de valores e na perpetuação da história familiar e social (Santos, 2006).

Os novos arranjos familiares têm limitações no que respeita à tarefa de responsabilização, amparo e apoio dos membros mais velhos. As dificuldades existentes a nível das políticas sociais acabam muitas vezes por colocar em causa a qualidade de vida dos idosos, consequência dos poucos recursos materiais e psicossociais (Rodrigues & Soares, 2006).

Os papéis da família e as dinâmicas familiares anteriormente descritas estão presentes no filme “Parente é Serpente”. Neste filme é possível encontrar uma família tradicional onde cada elemento desempenha o seu papel. Estão presentes filhos, netos, sobrinhos, tios, pais, avós, cunhadas, sogra, genros entre outros. Cada elemento da família tem o seu espaço e personalidade. Existem filhos que assumem os papéis de preocupação e cuidado, irmãos que têm uma grande união e amizade, carinho para com os pais etc. Os papéis na família do filme estavam bem definidos e existia um equilíbrio.

Os pais, já com uma idade avançada (presença de Alzheimer num dos elementos) decidem que querem ir viver com um dos filhos. É neste momento que o equilíbrio é arruinado. Os filhos não conseguem lidar com a decisão da mãe e entram em desacordo. Verifica-se que existe uma enorme dificuldade em aceitar novos papéis e responsabilidades. O quotidiano agitado de cada membro também não ajudava, surgindo sempre justificações e motivos para não poderem receber os pais em sua casa.

Este filme permite ver, de uma forma prática, o modo como a família (papéis) e a sociedade se organizam perante a existência de elementos mais velhos. Para evitar estas situações, os profissionais (gerontólogos) devem trabalhar e desenvolver projetos com o objetivo de desmistificar o processo de envelhecimento. As famílias também devem ser trabalhadas e sensibilizadas para a existência de papéis. Deve-lhes ser explicado que os receios sentidos são normais e que é necessário um período de adaptação.

Bibliografia

Monicelli, M. (prod.) (1992). Parente é Serpente [100 min.]. Itália: Spectra Nova

Rodrigues, L. & Soares, G (2006). Velho, Idoso e Terceira Idade na Sociedade Contemporânea. Revista Ágora, 1-29.

Santos, I. (2006). Homem Idoso: Vivência de Papéis Durante o Ciclo Vital da Família. Universidade Católica de Pernambuco, Recife.

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